[Escrito por Yuri Torres]
Todas as pessoas brasileiras maiores de 21 anos tem o direito à adoção, independente de seu estado civil (art. 42, ECA). Cabe destacar que a diferença de idade entre o adotante e o adotado há de ser, pelo menos, de dezesseis anos. Hipótese onde os relatórios social o psicológico comprovam condições morais e materiais de um requerente solteiro para assumir esta responsabilidade é cada vez maior e bem aceita, pelo menos no meio jurídico. Nesse processo é necessário confimar a disposição e viabilidade de um adotante de criar e educar uma criança sozinho.
Convencer o mundo de que você quer ser responsável por outro ser não é tarefa fácil. Tomar a decisão de se comprometer com uma criatura indefesa para o resto de sua vida também não soa menos difícil. É ter determinação e ousadia. Transpor barreiras, preconceitos e ir de encontro àquilo que acredita ser capaz, é a maior demonstração de aptidão de um candidato a paternidade voluntária.
Quando decidi ter você nos meus braços e na minha vida, tive que enfrentar uma resistência do mundo que dizia que não valia a pena tanto esforço para realização de um capricho pessoal. Não entendiam que dentro de mim não existia nenhum capricho e já gestava essa vontade de amar você há anos e só esperava aquele momento exato que sabia que existiria e que você viria aos meus braços.
O Cadastro Nacional de Adoção, vigente desde 2008, unificou todo o processo a nível nacional, permitindo o intercruzamento de dados de adotantes e adotados, agilizando o processo de triagem de perfis. Nesse cadastro perfis de qualquer tipo ficam em igualdade de preferência no processo e disponíveis para consulta em qualquer comarca. Quando uma criança é disponibilizada para um processo legal de adoção, potenciais adotantes são imediatamente contactados e questionados sobre seu interesse.
Nunca digo que te escolhi mas sim você a mim. Não pude resistir aquela mirada suplicante de amor atrás do vidro, aquela carga de confiança em mim depositada por seus olhos dizendo “se eu te sorrio você sorrirá para o resto das nossas vidas”. Não tinha tudo preparado para a sua chegada e nem imaginava que nos encontraríamos tão rápido. Felizmente aquela resistência do mundo se transformou em uma grande corrente de apoio e construimos todos o sonho de estar juntos. Estar contigo surpreendentemente se transformou em um projeto coletivo que eu muitas vezes dispensava para estarmos a sós, escutando as batidas dos nossos corações e nos vendo transparentes através de nossas pupilas.
Casos de adoção de solteiros sempre foram permitidos pela nova legislação, mas sempre encontravam empecílios na sociedade e nas empresas. Homens e mulheres foram aos poucos quebrando essas barrerias morais e jurídicas para terem os mesmo direitos e benefícios de pais biológicos, e abrindo precendentes para que mais pessoas com esse perfil pudessem passar por esse processo de uma maneira menos penosa. A licença-adotante,antes somente concedidas a pais biológicos, foi uma dentre as brechas encontradas para que pais solteiros pudessem finalmente ter igualdade de tratamento e garantias trabalhistas equivalentes.
A cada noite em claro,a cada fralda trocada, a cada choro repentino de fome ou medo ou ansias, estava a teu lado e nunca mais te sentirias abandonado meu filho. Nos abraçávamos e sentíamos seguros. Tínhamos o mundo diante de nós e precisávamos ser valentes para enfrentá-lo de peito aberto e orgulho de sermos uma família diferente.
No país, segundo estimativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os homens solteiros representam cerca de 1% do total de interessados na adoção. O restante são majoritariamente casais e mulheres solteiras. Essa pequena porção de futuras famílias monoparentais liderada por homens de todas as idades dispostos a criar um lar de amor e afeto ainda tem pouca representatividade e aceitabilidade, mas muito a ensinar à sociedade sobre seus antigos modelos, regras, conceitos e costumes de paternidade.
Não é fácil para um desfazer de toda sua liberdade e centrar todas as suas atenções nesse pequeno ser que agora carrega o seu nome. Não foi fácil dividi-lo com meu trabalho e minhas imensas responsabilidades. Nada convencia mais meus esforços do que cuidar de ti e me ver feliz o fazendo.
Aprender a ter disciplina com outro, comprometer-se com horários, tarefas, dias e noites, amor, responsabilidades. Estar alí para tudo e sempre, doar de si sempre e em tudo. Compreender que se firmou um contrato fácil de ser cumprido, de longo prazo e sem cláusulas penosas.
Hoje, sei que quando nos olhamos nos olhos somos cúmplices e aí não cabe nenhuma palavra. Sei que tenho a ti e tens a mim nesse mundo e esse pacto funciona. Entre nós não cabe mentira e só a verdade nos uniu. Sou teu pai, sou teu amigo e juntos nossa família funciona. Somos únicos e necessitamos de nossos comandos diferentes, agarrando nessas variáveis imprescindíveis dessa relação de amor que sentimos. Aprendi a ser pai contigo e sinto que cada dia mais podes sentir que és meu filho.
1 comments:
Nossa... Q lindo!!!
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